Entrevista
retirada da revista ISTOÈ.
ISTOÉ - A traição do
comandante - 8/10/1997
A traição
do comandante
Num relato inédito,
o ex-chefe da espionagem cubana e maior amigo de Che na
guerrilha revela como Fidel isolou Guevara na Bolívia,
negou-lhe armas e o conduziu para a morte.
ROSELY FORGANES, DE PARIS
Às vésperas
do 30º aniversário do assassinato de Ernesto
"Che" Guevara, neste 9 de outubro, seu mais próximo
companheiro de jornadas revolucionárias acusa: Fidel Castro
traiu o amigo de Sierra Maestra e o mandou para a morte nas
selvas da Bolívia. Os serviços secretos cubanos mentiram
para Guevara e fizeram com que ele caísse numa armadilha.
Fidel poderia ter tirado o Che da enrascada boliviana, mas
preferiu abandoná-lo à própria sorte. Mais ainda, os
restos do Guevara que foram encontrados em junho na Bolívia
teriam passado 12 anos em Cuba antes de serem enterrados
novamente para ser "descobertos" a tempo das
comemorações dos 30 anos. Ou então não são os restos do
guerrilheiro. Quem dispara essa metralhadora giratória de
graves acusações é ninguém menos que Dariel Alarcón Ramírez,
o "comandante Benigno", cubano, 58 anos. Hoje
historiador exilado na França, ele é um dos três
guerrilheiros que ainda estão vivos, entre os cinco que
sobreviveram à campanha do Che na Bolívia. "O que
Cuba está fazendo com a comemoração da morte do Guevara
é uma vergonha, um insulto à memória e ao ideal de um
homem que deu tudo, até a própria vida, em busca de um
mundo melhor. Eu me pergunto como Fidel tem coragem e
cinismo para fazer isso", acusa. "Já exploraram a
memória do Che, seu exemplo, sua coragem, seu idealismo.
Agora, vão explorar seus ossos."
está
fazendo com a comemoração da morte do Guevara é uma
vergonha, um insulto à memória e ao ideal de um homem que
deu tudo, até a própria vida, em busca de um mundo melhor.
Eu me pergunto como Fidel tem coragem e cinismo para fazer
isso", acusa. "Já exploraram a memória do Che,
seu exemplo, sua coragem, seu idealismo. Agora, vão
explorar seus ossos."
Por causa de seu prontuário de revolucionário impecável,
as acusações de Benigno têm o efeito de uma bomba atômica
para o regime cubano. Toda sua vida foi ligada à do Che.
Camponês analfabeto, Alarcón entrou para a guerrilha aos
17 anos, lutou na Sierra Maestra ao lado de Guevara e de
Camilo Cienfuegos. Até o nome de guerra "Benigno"
foi inventado pelo Che, que o considerava um homem bom e
leal. Ele aprendeu a ler e escrever com Guevara na selva,
chegando até o nível do ginásio com exames passados entre
dois combates. Foi guarda-costas do Che em diferentes épocas,
lutou novamente ao seu lado na fracassada operação do
Congo e foi escolhido por ele para formar a elite dos
guerrilheiros na Bolívia. "O último cubano com quem
Guevara falou antes de morrer fui eu", conta Benigno,
que conseguiu escapar da Bolívia ferido, com cinco
companheiros, com a cabeça a prêmio e duas divisões de
"rangers" do Exército boliviano atrás deles.
Depois de uma fuga espetacular através do Chile em 1968,
Benigno voltou a Cuba e ocupou altos postos na hierarquia do
regime comunista até dezembro de 1995, quando se exilou na
França. Atualmente, mora no Sul da França, mas recebeu
ISTOÉ num apartamento na periferia de Paris.
Por que Fidel Castro trairia Guevara? "O Che era, junto
com Fidel, o homem mais popular de Cuba e o único que podia
discordar dele, dizer o que pensava", conta.
"Fidel foi muito esperto. Guevara era duro na queda.
Ele era o revolucionário mais inteligente de Cuba,
brilhante, incorruptível, adorado pelo povo. O Che nunca
foi visto como um estrangeiro (ele era argentino de origem),
era mais cubano do que nós. Não dava para inventar
mentiras sobre ele, prendê-lo, assassiná-lo, provocar um
acidente, nada. A única maneira de se livrar dele era fazer
o que Fidel fez." Segundo Benigno, a traição começou
quando Fidel instigou o Che a lutar fora de Cuba. "Em
abril de 1964, Guevara se reuniu com Fidel para dizer o que
pensava dos rumos da revolução e da dependência cada vez
maior de Cuba em relação aos soviéticos. A reunião durou
24 horas. Ninguém sabe exatamente o que foi dito, mas ao
sair do encontro Che decidiu deixar Cuba. Ele não foi para
o Congo para cumprir uma missão de Fidel, mas sim porque não
tinha alternativa. Sua lealdade a Fidel impedia que ele lhe
fizesse oposição publicamente."
A missão africana foi um fiasco completo e muita gente até
hoje não entende como o comandante guerrilheiro, com tanta
experiência militar, foi se meter numa aventura daquela.
"A verdade é que não havia nada preparado. Foi uma
surpresa para os africanos e até para nós, os cubanos que
o acompanhavam", conta Benigno. "Quando o Che foi
para o Congo, Fidel pediu que ele escrevesse uma carta, que
pudesse livrar a responsabilidade dele diante dos soviéticos
e não comprometer Cuba." Nessa carta, o número dois
do regime se despedia do povo cubano, renunciava à
nacionalidade, aos cargos, aos títulos, a tudo. "A
condição foi imposta por Fidel, embora os termos não
tenham sido ditados por ninguém." Benigno diz que o
acordo era que aquela mensagem só seria divulgada se o Che
morresse ou se chegasse à vitória em algum país.
"Foi só Guevara virar as costas e Fidel divulgou a
carta. Ele sabia exatamente o que estava fazendo. Nós não
tínhamos percebido isso. Estávamos no Congo, ouvindo o rádio
e quase chorando de emoção com a carta que Fidel estava
lendo quando Guevara, furioso, deu um chute no rádio e
praguejou: 'O culto da personalidade não acabou com Stálin.
Intencionalmente ou não, eu acabo de desaparecer da cena
internacional.' E foi sentar num canto, visivelmente
abalado, sem falar com ninguém", diz Benigno.
De volta a Cuba, Guevara foi para Piñar del Rio preparar a
nova luta, na Bolívia. "Mas os serviços secretos
cubanos o enganaram em tudo. Eles garantiram que o Partido
Comunista Boliviano (PCB) aderiria em massa ao projeto
revolucionário. Só que Mario Monje, o secretário-geral do
PCB, não queria saber de luta armada, muito menos do
Guevara e tinha deixado isso bem claro aos dirigentes
cubanos." Para Benigno, Monje pode ser um covarde, mas
não um traidor, como geralmente se acusa. "Ele foi
praticamente forçado pelo governo cubano a dizer que
aceitava o plano guerrilheiro, senão não deixavam que saísse
de Cuba", diz. "Guevara chegou na Bolívia crente
que ia encontrar Mario Monje assim que desembarcasse. Pensou
que haveria toda uma logística à nossa espera – comida,
remédios, armas, contatos, comunicações. Tudo o que nós
encontramos foi uma casa coberta de zinco e um forno. Para
comer, tivemos que fazer uma horta. Até os mapas da região
que o Che tinha eram imprecisos ou incorretos", lembra.
"O Monje foi passear num festival na Bulgária e, na
volta, impediu os membros do PCB de se juntar à guerrilha.
Os 60 combatentes do partido, que foram treinados em Cuba e
deveriam ter sido recebidos por Tânia, foram 'desviados'
por Monje e nunca chegaram." Tânia era o codinome de
Tamara Bunke, agente cubana de origem alemã que se
incorporou à guerrilha do Che.
Segundo o relato de Benigno, a guerrilha do Che na Bolívia
rapidamente se revelou a crônica de uma morte anunciada.
"Nossos esforços para entrar em contato com Cuba eram
patéticos. Nós tentávamos, desesperadamente, pelo rádio
ou através das pessoas que deveriam servir de agentes de
ligação. Nada, nunca", lembra. "Só quando o Che
já estava na selva ele se deu conta de que caíra numa
armadilha. Era evidente, mas ele não dizia nada a ninguém.
Esse era um defeito dele, nunca ter discutido isso conosco,
seus homens, que estavam lá arriscando a pele com ele.
Alguns, que tinham feito parte dos serviços secretos e
sabiam do que estavam falando, chegavam a dizer: 'Estávamos
incomodando, eles nos mandaram para cá para se livrar de nós.'
Quando íamos muito longe nas críticas, o Che resmungava:
'Vocês não acham melhor parar de falar tanta merda?' e ia
embora. O que era inconcebível, visto como ele era
severo", lembra Benigno. "Ele nos colocava de
castigo por coisas bobas, imagine por estar questionando a
revolução em voz alta. Isso nos dava a certeza de que ele
estava de acordo, embora não admitisse em público. Foi
fiel a Fidel até as últimas consequências, ao preço da
própria vida, demonstrou lealdade absoluta, inclusive a
quem o traiu e o enviou à morte", se emociona Benigno.
O ex-comandante diz que os agentes do serviço de informações
cubano sumiram assim que eles chegaram à Bolívia. "O
último a desaparecer foi Renán Montero, que vivia
legalmente na Bolívia, com todos os documentos em ordem.
Ninguém nem sabia que ele era estrangeiro, os documentos
diziam que ele era de Cochabamba. Então, Renan diz que tem
que ir a Paris renovar os documentos. Você já viu alguém
renovar documentos bolivianos em Paris? Mesmo que fosse
necessário renovar alguma coisa, na Bolívia, com um
punhado de dólares você faz documentos verdadeiros, nem
falsificar precisa. E ele desaparece durante meses! Ficamos
incomunicáveis desde os primeiros momentos. O rádio que
nos deram não funcionava e Renán, que foi para Paris, de
onde podia falar com Cuba, sabia perfeitamente disso",
acusa. "Ele mesmo ficou de comprar outro transmissor,
que nunca chegou. Enquanto isso, a rádio cubana continuava
pedindo que mandássemos notícias! E Renán esteve em Cuba,
com Fidel, que deu ordem para que ele não voltasse à Bolívia."
O comandante Benigno não tem dúvidas de que era possível
tirar Che Guevara da armadilha boliviana. "Se Fidel
quisesse, ele poderia, nem que fosse para tirar só o Che. Nós
teríamos aceitado sem pestanejar. Cuba poderia ter colocado
um, dois, três milhões de dólares na mesa e comprado as
pessoas certas. O governo boliviano estava dividido. Mas
isso nem era necessário. A Bolívia até hoje é um país
onde você entra e sai como quer, por onde quer. Imagine então
em 1967", compara. "Nós, os cinco sobreviventes
das guerrilhas, provamos que era possível. Sozinhos,
feridos, exaustos, com duas divisões do Exército atrás de
nós, conseguimos caminhar três mil quilômetros, sem ajuda
de ninguém, e sair pelo Chile."
Um périplo sinistro – Fugindo do Exército boliviano em
outubro de 1967, Benigno estava a menos de 200 metros do
local onde Che Guevara foi assassinado, na escolinha do paupérrimo
povoado de La Higuera, a quase 800 quilômetros de La Paz,
sem saber que seu líder e amigo se encontrava ali. Ao
perceber a aproximação dos soldados, os guerrilheiros se
separaram em três colunas para facilitar a fuga. Benigno
chegou a ouvir os tiros que mataram Guevara, mas só mais
tarde soube o que aconteceu. Durante anos, ele desconfiou da
história do desaparecimento do cadáver do Che. Utilizou
suas relações nos serviços secretos cubanos para
investigar. Em maio último, esteve na Bolívia, pouco antes
de os restos serem encontrados junto com os de outros seis
guerrilheiros. "Desde que se começou a falar no cadáver
do Che Guevara, logo depois de sua morte, foi dito que ele
estava enterrado no final da pista do aeroporto de
Vallegrande. Mas também sempre se falou em três corpos, não
em sete: 'Willi' (Simeón Cuba), o 'Chino' (Juan Pablo Chang
Navarro) e o Che", diz.
Entre 8 e 9 de outubro de 1967 morreram sete combatentes da
guerrilha, mas o que ninguém lembra é que quatro morreram
no dia 8: 'Pacho', 'Antônio', 'Arturo' e 'Aniceto'."
Eles morreram de manhã, na quebrada do Churo (local onde
Guevara foi capturado). Os corpos foram levados a
Vallegrande à tarde. No dia 9, os quatro foram sepultados
ao lado do grupo de Joaquín (líder da outra coluna da
guerrilha, que tinha se perdido do grupo principal. Ele e os
oito guerrilheiros que o acompanhavam foram mortos numa
emboscada do Exército no dia 31 de agosto).
"Por um acaso terrível eu estava a 200 metros de onde
eles estavam sendo assassinados, sem saber que estavam lá.
Ouvi a primeira rajada às 12h30 e depois fiquei sabendo que
era o Chino. Às 12h45 foi a vez de Willi. Mataram o Che às
13h. Seu corpo foi levado de helicóptero para Vallegrande,
onde chegou à tarde, e colocado na lavanderia do hospital.
Che só foi sepultado ao amanhecer do dia 11, junto com os
dois outros, Chino e Willi. Você pode me explicar como é
que agora os restos do Che foram encontrados junto com seis
ossadas (identificadas como sendo as de Willi, Chino,
Aniceto, Antonio, Pacho e Arturo)?"
A operação de retirada do corpo de Guevara para enviá-lo
a Cuba nada fica a dever aos contos de Edgar Allan Poe. Essa
história nunca foi contada antes. Pouquíssimas pessoas
participaram da sinistra empreitada, 12 anos atrás, e
Benigno levou anos para juntar os pontos. "Em 1985, com
a ajuda de um padre, cujo nome não posso revelar por razões
de segurança, foi feita a exumação dos restos do Che no
mais estrito segredo. Esse padre mostrou o lugar exato onde
ele estava enterrado. Sem o conhecimento do governo
boliviano, é claro. Os restos do Guevara chegaram a Cuba
numa mala diplomática", para serem identificados.
Segundo Benigno, essa mala foi parar no Departamento Américas
do Comitê Central, em mãos do comandante Manuel Piñeiro
Lozada. "Eu não posso garantir se, nesse momento,
Fidel sabia da operação. Acredito que não, que Piñeiro
quis fazer uma surpresa a Fidel. Para manter o segredo
absoluto, Piñeiro convocou um médico de sua confiança, o
dr. Damian, conhecido por sua mediocridade. Ele era tão
incompetente que não conseguiu identificar os ossos e
simplesmente determinou que não se tratava do Che. Então,
os restos foram colocados numa valise e não sei mais o que
aconteceu."
Benigno considera que esses ossos encontrados agora em
Vallegrande são os do Che? "Para mim não, mas eu não
sou especialista. E também não posso garantir que os
restos levados em 1985 não voltaram por alguma via
miraculosa, nem sei onde teriam ficado guardados. Podem ser
verdadeiros e ter sido reunidos aos ossos dos outros
guerrilheiros. O que eu posso garantir é que os restos do
Che foram tirados da pista do aeroporto em 1985. Eu sei,
inclusive, que isso causou problemas entre os governos
boliviano e cubano. E agora deve sair uma lista com os nomes
das pessoas que teriam participado dessa maquinação.
Parece que houve negociatas e Bánzer (o presidente Hugo Bánzer)
mandou investigar." Qual seria o objetivo do governo
cubano com essa manobra macabra? Benigno não sabe
responder, mas garante que a descoberta dos ossos agora foi
planejado. "Este é o ano do Che Guevara e de seus
companheiros. Os restos apareceram no momento exato. Eles
foram encontrados em junho passado. No próximo dia 8 de
outubro vai ser inaugurado o Mausoléu de Santa Clara, em
Cuba (onde os restos de Guevara serão depositados). Me
desculpe, mas uma coisa assim não se projeta em poucos
dias. É evidente que esse monumento já estava preparado há
muito tempo. O objetivo é levar turismo a Cuba", acusa
Benigno. "O mausoléu vai se transformar num centro turístico
mundial – e em dólares que vão diretamente para o bolso
de Fidel, não para o povo."
A lenta desilusão – Nos últimos 38 anos, entre uma
guerrilha e outra, o comandante Benigno integrou a
burocracia do Partido Comunista que dirige Cuba com mão-de-ferro
desde 1959. Foi diretor da Logística das Forças Armadas,
chefe da Polícia Militar de Havana, diretor das prisões
(que, segundo ele, tentou humanizar), fez parte do serviço
de informações e da contra-espionagem. Também dirigiu as
"escolas especiais" (centros de treinamento de
guerrilheiros para lançar a revolução mundial, os mil
Vietnãs de que falava o Che) desde sua criação em 1962.
Nessa qualidade, ele treinou combatentes do mundo inteiro,
inclusive brasileiros.
Mas depois de tudo o que ele viveu no Congo e na Bolívia,
por que Benigno retornou a Cuba? Como acreditou novamente em
Fidel Castro?
O ex-comandante suspira, sacode a cabeça, abre os braços.
"Você tocou no ponto essencial. Até hoje eu não me
perdôo, tenho raiva de mim mesmo. Fidel tem um poder de
persuasão incrível. Eu, como todo mundo, o adorava. Mesmo
com a minha desconfiança, eu não imaginava que ele fosse
capaz daquela traição. Na época, eu punha a culpa em
Miguel Piñeiro, responsável da América Latina. Eu achava
que Fidel também estava sendo enganado. Ele falava do Che
com uma admiração, uma paixão, que nós ficávamos de
boca aberta. Você ficava se achando mesquinho de desconfiar
dele", conta Benigno.
Para o ex-guerrilheiro a desilusão final com o regime que
ele ajudou a criar só veio com o caso do general Arnaldo
Ochoa, amigo dele desde Sierra Maestra. Ochoa foi fuzilado
em 1989 junto com os irmãos La Guardia, acusados de narcotráfico.
"Eu não podia mais fechar os olhos. Eu sabia que
absolutamente tudo o que eles faziam era a mando de Fidel,
que foi amigo deles a vida toda. Ochoa era um dos homens
mais populares de Cuba, um herói nacional. Os gêmeos La
Guardia também, e desde a vitória da revolução eles
faziam pesca submarina – o que Fidel gosta mais na vida
–, um de cada lado dele. E Fidel fuzila os dois! Aí
decidi: tenho que ir embora." Mas a ruptura só
ocorreria seis anos depois. "Aceitei um convite para
vir a Paris, no dia 30 de setembro de 1995, para um encontro
de escritores, consegui trazer minha família e fiquei por
aqui." Hoje em dia Benigno não chega a viver na
clandestinidade, mas o próprio governo francês pediu para
que ele tomasse cuidado. Um grupo de contra-espionagem
cubano – um general e mais de 20 oficiais – esteve na
França recentemente tentando localizá-lo. O antigo
companheiro do Che tem recebido ameaças e foi objeto de uma
campanha de difamação. "Eu sei que a minha saída
abalou muito Fidel Castro. Ele ficou furioso, inclusive
porque eu não fui para Miami me juntar aos outros
resistentes ou ganhar dinheiro nos EUA. Se Fidel Castro
puder provar, com fatos, que não traiu o Che, que não o
abandonou na Bolívia, eu volto a Cuba e me entrego para
receber o castigo merecido. E assino um documento
reconhecendo meu erro", desafia Benigno.
O veterano revolucionário teme que a morte do comandante
mergulhe a ilha num verdadeiro banho de sangue porque o
sucessor designado, o primeiro-irmão, Raúl Castro, "é
um bêbado e incompetente e seria tentado a se impor pela
força". Benigno diz que Fidel está muito mal de saúde.
"Ele tem problemas respiratórios e pulmonares graves,
não se sabe se é câncer ou não. Ele foi proibido
totalmente de fazer uma das coisas que mais gosta na vida, a
pesca submarina", revela. "Também está proibido
de fumar e, nos últimos tempos, evitar ao máximo falar em
público. As pessoas se perguntam por que num país tão
quente Fidel anda sempre de casaco. É que ele precisa
esconder uma camisa térmica, que usa desde os anos 70, para
esquentar os pulmões e os brônquios. Pelo que se sabe, o fígado
também foi atingido e está afetando o cérebro, o que faz
com que ele perca a razão. Também está com mal de
Parkinson."
E o ex-guerrilheiro reserva a estocada final para o
dirigente cubano: "Depois de trair Guevara, de ser o
responsável pela sua morte, Fidel Castro tenta ainda
utilizar o cadáver do Che, como vem fazendo há 30 anos.
Todo mundo já entendeu que cada vez que Fidel agita o
retrato de Guevara é para obrigar o povo cubano a apertar
mais o cinto. É triste que tenha que ser um cubano a dizer
isso, mas essa comemoração é uma ofensa à memória e aos
princípios nobres pelos quais morreu o Che. Ele ficaria
revoltado com o que está acontecendo em Cuba."
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